Ensinar e aprender no tempo da pandemia

Prof.  Me. Márcia Maria de Castro Buzzato

Prof.  Me. Márcia de Castro Buzzato

⠀⠀⠀⠀E lá vamos nós para mais uma semana em meio a um desafio jamais imaginado por qualquer um de nós, seres viventes desta época: a pandemia ocasionada por um vírus que desafia a ciência, abala estruturalmente a economia mundial, altera a sociedade e desestrutura nossa emoção.

⠀⠀⠀⠀ Assim tem sido esses dias. Todo mundo sofrendo de alguma privação, alguns muito mais, outros menos. Mas hoje, escolhemos falar do desafio de ensinar e aprender não “em” tempos “de” pandemia, pois jamais alguém escreveu, dissertou sobre como desenvolver a educação formal nas condições em que estamos vivendo hoje, maio de 2020, mas “no” tempo “desta” pandemia.

⠀⠀⠀⠀ Obviamente que sabemos que muito se escreveu sobre a educação nos períodos de guerra, nas grandes crises mundiais, mas nos referimos a esta, a do Coronavírus, na qual de um dia para outro, literalmente, nos vimos diante de um dos maiores desafios de nossa vida de professor da educação básica: ensinar à distância.

⠀⠀⠀⠀ Como diz um professor que admiramos e que se embasa nos princípios pedagógicos mais coerentes que conhecemos: “ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade”. Pois bem! Ninguém se sente seguro neste momento. Temos muita certeza da importância da presença para que os processos de ensinar e aprender possam ocorrer. Dos medos que nos assolam, a angústia de não reconhecermos os olhares de dúvidas, de usar a tecnologia, de não trabalhar sinestesicamente o que nossos alunos precisam, são pontos altos vivenciados por milhares de colegas neste momento.

⠀⠀⠀⠀ Mas, acreditamos que a docência requer competência e generosidade. Há pouco tempo estudamos bons professores e constatamos que para assim o sermos, são necessários três pilares muito integrados: conhecimento profissional, prática profissional e engajamento. E, em uma situação totalmente adversa ao tempo em que o estudo foi desenvolvido, reforçamos o quão importante e real, estas três dimensões da ação docente têm sido e precisam ser conhecidas por quem, neste momento, é desafiado e avaliado por uma sociedade inteira!

⠀⠀⠀⠀ E por falar em sociedade nos analisando, pessoalmente não acreditamos que sairemos mais valorizados. Dedos se apontam de todas as maneiras e também não nos cabem julgamentos sobre isto, pois o tempo de incertezas e medos mexe com a percepção de todos. Por isso precisamos exercitar a generosidade, não somente para com os nossos alunos, mas para compreendermos que é preciso conhecimento de nossa profissão, de nossa prática e de nos engajarmos para que possamos fazer o melhor dentro do possível. Desta forma, sairemos disto mais valorosos.

⠀⠀⠀⠀ Sim, valorosos! Com conhecimento profissional, prática e engajamento, estamos nos reinventando e compreendendo que o ensino precisa mais do que nunca transcender as disciplinas. É necessário ser para além de interdisciplinar, tem que ser transdisciplinar, tem que envolver a afetividade como nunca, pois somente ela pode romper um pouco a barreira das telas dos celulares, computadores.

⠀⠀⠀⠀ Assim, compreendemos que pais e famílias não devem ser os professores. A docência é uma ciência e que não se aprende intuitivamente. Há longos caminhos para entender os complexos processos didáticos, psicológicos, filosóficos, sociais envolvidos em ensinar. É muito mais que conteúdo!

⠀⠀⠀⠀ Entendemos e estamos lutando por isso e também para que as famílias sejam nossas parceiras. A velha e boa parceria entre escola e família, agora de uma maneira inusitada. E elas também lutam da forma como podem e conseguem neste momento, não temos dúvidas disto.

⠀⠀⠀⠀ Contudo, ousamos dizer que nada é novo para a complexa função docente e sim, o momento é inédito, assustador. Poderíamos discorrer sobre autores que fazem a ciência do ensino acontecer por linhas intermináveis abaixo e, todos teriam a sensação de que seus estudos refletiriam o momento atual.  Mas, vamos ressaltar uma obra que não nos sai da cabeça por esses dias e que contempla a ação docente de maneira que o professor:

  • crie pontes no conhecimento;
  • transcenda a prática de sala de aula: como somos desafiados com as webconferências, com as vídeo-aulas e plataformas digitais;
  • pesquise e inove: formas de levar o ensino, inovar a linguagem utilizada, pesquisar a melhor maneira de fazer a escola acontecer nos dias em que não sabemos como será o amanhã;
  • ensine com ética e estética: somente acreditando no poder transformador da educação é que conseguimos levar nossas vídeo-aulas, nossas interações virtuais e aqui fazemos uma ressalva aos inúmeros colegas de profissão que se desesperam com seus alunos sem condições de receberem todas estas formas de ensino. Sim, as desigualdades sociais se ampliarão e tememos os estragos, mesmo nos considerando muito privilegiados.

⠀⠀⠀⠀ E sobre estética, quantos aprendizados estamos tendo com a forma como estamos desenvolvendo tudo. Aos colegas próximos de trabalho, nossa parceria tem sido essencial. Aos que estão longe, nosso mais profundo reconhecimento.

  • amar a docência, respeitar o discente, compreender a condição de sermos docentes e discentes ao mesmo tempo.

⠀⠀⠀⠀ E mais que tudo: a educação no tempo desta pandemia não pode parar. Medo existe, claro! Fundamental é termos consciência e esperança. E ao nosso modo de enxergar o mundo, a educação é a esperança se transformando em verbo.

⠀⠀⠀⠀ Esperançamos o amanhã e parafraseamos o poeta que diz que entre o real e o desejável há a imposição inevitável do tempo de esperas. Que esperemos através também da educação!!!

⠀⠀⠀⠀ Utopia … Não! Esperança e fé em nossa profissão!

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