Concurso de Redação: Cultura Caipira para além do preconceito

Trabalhar com incentivos à produção de textos e com a eficiência da leitura, têm sido um dos objetivos mais fortes da professora Elis, responsável pela Oficina de Redação do C.C.C.

Comemorando o dia de Monteiro Lobato, lançamos dois concursos para nossos alunos: Concurso Colagens do Picapau Amarelo para o Infantil e Fundamental 1, no qual produziram desenhos maravilhosos a partir de colagens dos personagens do Sítio e Concurso de Redação para o Fundamental 2.

Após discutirem um trecho do livro Urupês, de Monteiro Lobato, refletindo sobre a representação do caipira e do trabalhador rural , discutiu-se os estereótipos da época e como até hoje a cultura caipira é impactada pela obra de Lobato.

A proposta aos alunos foi de elaborar um texto, explanando sobre o lado positivo da cultura caipira e interiorana, sendo que dividiu-se em duas categorias: Nível 1 – alunos de sexto e sétimo anos e Nível 2 – alunos de oitavo e nono anos.

Professora Elis, Jeca Tatu, Monteiro Lobato e livro Urupês

Concomitantemente a este trabalho, o professor Jeralty, educador físico e músico, trabalhou com os alunos a viola caipira, compositores e cantores de música caipira , propondo muita música, sensibilidade e cultura. Foram momentos incríveis como o vivenciado abaixo:

Professor Jeralty

Textos lindos foram escritos e julgados por duas professoras incríveis Sônia Gonçalves- pedagoga, arte educadora e psicopedagoga e Michele Martins – professora licenciada em Letras. As vencedoras do concurso foram as alunas: Maria Laura Ribeiro da Silva Barbosa, 6º ano  e Lara Isabelle Sapuci, 9º ano.

O texto da Maria Laura fala da simplicidade como modo de vida, uma narrativa fictícia, mas com a singeleza da valorização do homem que realmente vive no campo. Já o texto da Lara é provocativo de uma reflexão ao termo caipira, cultura de um povo que vive no interior, assim como nós.  Ambos trazem à luz, reflexões sobre sociedade, o que muito precisamos, pois é conhecendo que se preserva ou transforma.

Abaixo estão os textos vencedores

Uma história caipira

Maria Laura Ribeiro da Silva Barbosa

Em um belo sertão morava um homem chamado Francisco, mais conhecido como Chico, um caipira com pouco conhecimento escolar, que fez os primeiros anos da escola apenas, pois no sertão não há muitas chances de escolaridade.

Chico fala com sotaque caipira e seu maior conhecimento é da vivência na roça, de suas tradições e seus costumes, o que não o torna menos que nenhum homem letrado.

Às vezes Chico vai para a cidade, mesmo não gostando muito, pois é acostumado no sertão, onde não há muita gente e de vez em quando, principalmente aos fins de semana, tem festa caipira, com culinárias, músicas e muita moda de viola.

Alguns acham que a cultura caipira é não ter conhecimento, mas agora o próprio Chico vai explicar o que ela é de verdade:

“Oi pessoar, vim aqui ixpricá pr’oces o que é cultura caipira. É uma cultura que tem muita tradição que passa di pai para fio. Mais oceis acha que ser caipira é só que mora no sertão e que não sabi das coisa. Ta errado porque eu tenho meu jeito de falar, todo mundo daqui tem seu lado caipira e não é porque mora na cidade que é mió. Cada um é do jeito que é.

Chico até quis aprender um pouco mais da escola, mas teria que sair do sertão, que não tem recursos para melhorar o aprendizado. Porém, cresceu e viu que não precisou sair do sertão, sua terra amada, onde tem seus amigos, sua família. Sua cultura e seu espaço o fazem ser o homem que é, no Brasil grande e diverso.

Maria Laura Ribeiro da Silva Barbosa

Cultura caipira para além do preconceito 

Lara Isabelli Sapuci

O próprio povo brasileiro tem uma visão equivocada do caipira. Sabemos que no Brasil, temos diferentes culturas e costumes, devido às influências que recebemos no passado de outros países. Cada região, desse modo, pode ter tendência de se achar superior ou inferior que outra, sendo que isso existe até mesmo dentro do próprio estado ou região, criticando modos, costumes e fala.

Nossas características únicas formam aquilo que nos enriquece, juntamente com outras características do Brasil. Porém, até nos dias atuais, a imagem do caipira ainda é a mesma descrita nos livros do Monteiro Lobato em Jeca Tatu:  pessoas preguiçosas e grosseiras.

No dicionário online, caipira é descrito como “que tem hábito e modos rudes devido ao pouco acesso ou convívio social”. Sendo definido o significado de uma de uma gíria popular, então vemos que há um preconceito culturalmente instalado. Mas, se pensarmos bem sobre isso, a imagem do caipira que existia é apenas uma lembrança, pois, por exemplo, hoje há acessibilidade maior à tecnologia para cada vez mais destas pessoas, o que não muda costumes como comidas e festas, que ainda são presentes na cultura nacional e local.

As  contradições e essa visão equivocada do caipira podem ser chamadas de hipocrisia, pois ao mesmo tempo que há orgulho das características culturais do lugar, também há julgamentos de pessoas deste espaço como incapazes, se comparados com aqueles que vivem no polo mais evoluído economicamente de uma região.

Somos parte de um todo, uma rica e diversa cultura, com cada região tendo suas comidas, festas, sotaques.  Acredito que a principal diferença entre a visão preconceituosa e a realidade caipira é: algo atrasado e preguiçoso no trabalho (preconceito) e não a simplicidade e os fortes costumes locais, não envolvendo o nível de capacidade intelectual ou da educação recebida. Somos tradicionais em algumas coisas, apenas diferentes em relação às pessoas de capitais ou de polos econômicos do país.

Lara Isabelli Sapuci
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