Meu filho está fazendo birra. O que eu faço?

Quem convive com crianças entre dois anos e meio e quatro, sabe o quanto é difícil para elas compartilhar brinquedos, objetos e também o quanto estão imperativas em suas vontades em qualquer ambiente. Pode parecer, mas não se trata de uma atitude egoísta. Essa é uma característica do desenvolvimento infantil e acontece porque as crianças ainda não sabem coordenar seu ponto de vista com o do outro e estão construindo a ideia de propriedade, ou seja, precisam aprender a diferenciar o que é dela, o que é do outro e o que é de todos. Que existe a vontade dela e a vontade do outro.

Essa fase do desenvolvimento infantil é chamada de egocentrismo e se refere a um pensamento realista centrado no ponto de vista da criança. Ela não conhece outras perspectivas diferentes das suas e acredita que todo mundo percebe, sente e pensa da mesma maneira, ou seja, o mundo gira em torno dela.

Nesse sentido, pais e educadores assumem grande responsabilidade ao ajudar as crianças a superar a fase do egocentrismo com tranquilidade, mediando situações de conflito. Nas interações familiares as crianças têm a oportunidade de conhecer e vivenciar o amor e a compaixão. E esses sentimentos, aos poucos, substituem o ato egocêntrico. Já a escola, tem papel socializador e ajuda a criança a fazer essa mudança de forma sadia ao impregnar valores como a solidariedade e o respeito ao desejo do outro nas atividades propostas. Além disso, na escola aprende-se as regras do convívio social e isso ajudará a criança, entre outras coisas, a tornar-se capaz de dividir, ouvir o outro e a esperar a sua vez.

Psicólogos afirmam que nessa fase a criança não consegue perceber o outro. Também não mostra empatia em se colocar no lugar de outras pessoas. Não gosta de compartilhar atenção ou pertences e precisa sempre ter suas vontades satisfeitas. Além disso, não vê necessidade de explicar aquilo que diz ou faz, porque acredita que será sempre compreendida e tem dificuldade em lidar com frustrações porque não percebe nada além do seu próprio desejo e sentimento.
Para demonstrar sua insatisfação e ter suas vontades atendidas, as crianças podem fazer birra para chamar a atenção dos pais e professores, demonstrar certa agressividade e até mesmo atitudes melancólicas, se fazendo de vítima diante das situações de conflito.

Nessa fase, a criança se opõe a quase tudo e é justamente essa oposição que vai ajudar a construção da sua identidade, ou seja, a criança descobre quem ela é através do que ela não é. Ele é menino porque não é menina, ela é criança porque não é adulto. É dessa forma que as crianças se diferenciam das outras.

Ao achar que possui um objeto, ou melhor, “todos” os objetos, a criança confunde o “ter” com o “ser”, ou seja, ao disputar um brinquedo a criança busca assegurar a posse da sua própria personalidade. Nas situações de disputa, o desejo de propriedade conta mais que o objeto em si.

Nesse processo, é importante ser paciente e mostrar firmeza. Durante as situações de conflito, auxilie a criança ajudando-a a identificar diferentes perspectivas e olhar a situação por outros pontos de vista. Se for a disputa por um brinquedo, por exemplo, explique por que o outro não quer emprestar ou sugira que brinquem juntos. Se for um lanche, sugira que troquem um pouquinho para que ambos possam experimentar o que o outro trouxe. O objetivo é envolver as crianças na resolução do problema, para que futuramente ela possa fazer isso com independência. Ao promover essas interações permitimos que as crianças construam sua identidade e reconheçam seu jeito de ser.

Não tenham medo do choro ou da birra. Sejam firmes e expliquem que nem tudo pode ser como ela quer. Algumas situações ela escolherá como quer e em outras, o adulto decidirá com a autoridade de família ou de escola. Assim, a criança vai se entendendo no ambiente e vai crescendo saudável e segura.

Quando não se faz esta correção, quando se permite demais as vontades das crianças, a tendência é que ela se torne cada vez mais imperativa, aumente seus desejos ou que se torne insegura quando adolescente. Então, façamos nossos papeis. Fácil? Claro que não. Mas dá certo.
E olhem, se bem construído este processo, quando o egocentrismo voltar lá na adolescência, tudo será mais ameno.

Um grande abraço!

Profª Me. Márcia Buzzato
Diretora e Mãe
Out/2022

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