Com a palavra, o adolescente!

Professora Me. Márcia Maria de Castro Buzzato

“Ao longo dos anos, nós professores vamos aprimorando a maneira como tratamos o conhecimento, é claro, e continuamos a desenvolver nos alunos o senso crítico diante de tudo que os circundam.

Ensinar com sentido, dar voz e despertar consciência crítica sobre a realidade sem partidarismos.

Assim caminhamos. Fácil? De maneira nenhuma. Porém, é preciso semear esperança, vitalidade e uma boa dose de otimismo crítico, ou seja, aquele que enxerga as dificuldades, mas pratica diariamente a fé na geração que se forma.

Abaixo está um fruto da aula de Arte, com a professora Sônia, sobre Música de Protesto, quando nossos meninos e meninas do 9º ano conheceram mais profundamente um clássico da Música Popular Brasileira, “Cálice”, de Chico Buarque, que foi uma forma de protestar contrariamente ao modelo ditatorial vigente no Brasil de 1978, quando foi composta. 

E nosso material POSITIVO, com a maestria de sempre, trouxe a proposta para que os alunos desenvolvessem uma nova música de protesto, com os temas por eles escolhidos a partir do clássico que ouviram e entenderam. 

Vejam o relato da aula com a professora Sônia e a palavra da Helena sobre sua composição junto com a amiga Nicole.”

 

Professora Sônia Gonçalves

“A música é uma das linguagens de arte que tem uma força transformadora. Muitas vezes é um modo de expressar sentimentos, desejos e frustrações. A música de protesto é utilizada como forma de “abrir os olhos da sociedade” para algumas questões que aflijam a um povo, comunidade… 

Desenvolver o tema “Música de Protesto” foi um desafio. Mostrar aos alunos que as canção não deve falar de coisas banais, mas, sim, explorar letras na tentativa de mudar a realidade cruel, em que grande parte do mundo vive, e através da música abordar múltiplos problemas sociais atuais, como: Guerra, violência, abuso, feminicídio, opressão, corrupção, escândalos políticos, repressão e discriminação foram os objetivos deste trabalho.

Se valeu a pena? Sem dúvidas…”

 

Música de trabalho

Cálice (Chico Buarque e Milton Nascimento, 1978)

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

 

Com a palavra, o adolescente

A dor de uma vida/ A dor de ser calada (Helena Marcondes e Nicole Silva, 2023)

Cale-se, afasta de mim esse traste
Afaste de mim esse traste, cale-se
Afaste de mim essa dor que me rodeia

Quando eu era pequena não podia falar
Tinha que aguentar ele me perturbar
Querer sempre me tocar, falando que queria me pegar.

Quando eu era pequena, falava
Mas ninguém acreditava
Porque eu era só uma criança
Quando ele vinha me tocar,
Eu me apavorava e tentava me acalmar

Eu queria falar, mas, cale-se
Eu queria contar, mas, cale-se
Eu queria me expressar, mas …

Cálice (pai), afaste de mim essa dor
Afaste de mim essa insegurança
Afaste de mim essas ameaças que me machucam desde tão nova
Afaste de mim essa dor de ser calada…

Cálice (pai), cale-se …afaste de mim tudo isso…

 

Helena Marcondes

Nicole Silva

“No mundo em que vivemos hoje esse assunto (abuso) não é tratado com a importância que tem. No Brasil e no mundo muitas mulheres passam por essas situações e sofrem caladas. Então,  como mulher, temos o direito de nos sentir protegidas em qualquer local com a roupa que estivermos confortáveis

Mas essa não é a realidade de muitas meninas. Várias garotas não se sentem seguras nem na própria casa! Como pode, por exemplo, alguém que te passava segurança fazer algo tão absurdo e virar uma figura de medo?????

Por mais absurdo que seja, isso é uma realidade de diversas mulheres. Esse é um assunto muito delicada e doloroso, mas é necessário ser discutido, pois muitas mulheres sofrem caladas e são ameaçadas para não contar nada a ninguém.

 É necessário lutarmos por essa causa e que nos mulheres nos apoiemos para que possa existir uma maior rede de apoio entre todas nós. A violência deixa marcas para uma vida toda.”

Publicado em: Blog